07 agosto 2006

parte dois

" - Bruto está doente... É saudável, então, sair de casa mal vestido e aspirar este humor úmido da manhã? Como! Bruto está doente, e se esgueira do leito agasalhado, para expôr-se ao contágio vil da noite, a este ar assim tão úmido e nocivo, para aumentar seus males? Não, meu Bruto, no espírito é que tendes uma doença, que, por direito e obrigação de esposa, preciso conhecer. Assim, de joelhos, pelas juras de amor que me fizestes e por aquele voto tão solene que nos uniu num corpo, uma pessoa fazendo de nós dois: peço dizerdes-me, a mim, vós próprio, a mim, vossa metade, o que vos deixa assim tão pensativo e que homens eram estes que esta noite vos vieram procurar; sim, pois é certo que aqui estiveram seis ou sete vultos que até da noite os rostos escondiam. "

01 agosto 2006


Ser teu pão, ser tua comida
Todo o amor que houver
nessa vida


É falar da gente. Mas pensar na gente não é pensar no amor. Porque o amor é, e ele é dito. É vendido. Combinado. É essa coisa de te quero bem. E a gente é força, é cuidado, é vontade. Não se vê o amor. Se fala o amor. Se prova o amor. Se mostra o amor. A gente não prova. A gente não mostra. A gente é a gente.

É assim, querer de amor, morrer de amor, sofrer o amor. Diz-se daquilo que move, daquilo que toca, que todo mundo busca, que todo mundo tem. Do amor diz-se a salvação, a gente não é a salvação. A gente é a gente, é assim, acorda e é, e vai dormir assim também, e come assim, e respira assim, e vive assim, vivendo a gente, respirando a gente, assim a gente. A gente é mais, porque é a gente.

E quando existe nas pessoas, quando surge nas pessoas, eu posso ver, posso dizer: aquilo é só amor. Não é a gente.

- Precisamos trocar a lâmpada desse abajur.
- Esse abajur não funciona mais há tempos, você sabe.
- Funciona sim. É só trocar a lâmpada.
- Não, não funciona. É sempre a mesma coisa. Você compra outra lâmpada, ele acende por dois dias e depois pifa de novo.
- Sempre compramos de 25watts. Precisamos comprar uma de 60.
- Não vou mais gastar dinheiro com esse abajur.
- Não fale assim, ganhei da mamãe. Vou tentar uma de 60 dessa vez.
- Compre, então, já que você insiste tanto. Mas não vai funcionar. Você vive teimando comigo. A lavadora de louças foi a mesma coisa. Gastamos uma fortuna no conserto e nada, nem liga mais. Com o abajur vai ser a mesma coisa.
- Tudo bem, então vou jogá-lo fora.
- Acho que é a melhor solução.
- Você faz isso pra mim?
- O quê? Eu?
- Sim, por quê não?
- Ah, sei lá...
- Vamos, ele é pesado, não consigo carregar sozinha.
- Esse abajur é antigo, né?
- É. Veio com a mamãe da Itália.
- Hum...
- Então tá, você leva ele pra fora. Envolva o bocal num saco plástico, talvez alguém queira pra alguma coisa. Vou dormir.
- Espera! É que... é um abajur bonito. Quem sabe seja a tomada. Pensando bem, também não é assim tão drástico, não precisa jogar fora, podemos deixar ele aí, de enfeite, combina com a estampa da cortina...
- Não, não quero entulhos na casa. Se não funciona, jogamos fora.
- Compre uma de 60. Mas se não funcionar mesmo assim, você joga fora. Você.
- Tá.
- E não me amole mais com essa história de abajur.
 

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