30 setembro 2007


Passo a passo para desamar alguém

1. siga andando de olhos fechados
2. pise, 3 vezes e com força, na flor mais bonita que encontrar no caminho, não importa se rosas ou orquídeas ou florzinhas da fortuna, pise. não olhe para ninguém
3. roa todas as unhas, deixe o cabelo crescer, passe a usar sabão de côco
4. escute jazz


5.
nunca mais beba água, para que não haja chance dela sair pelos olhos


28 setembro 2007


Me trago pra dentro de mim: já não me sou. Que desejaria com todas as fracas forças do meu útero pálido que não tivesses transado com mais ninguém que não fosse eu. As bordas daquela conversa foram cortantes e serviram pra tudo que os caninos puderam almejar, menos pro teu maior impulso - reconquistar meus lábios como os virgens que imaginavas. Não, nem tão virgens assim, e a notícia te foi sangrenta que espirrou do lado de cá, e tive nojo. Meu coração transborda, e não é de doçura como fora em outros tempos - agora grito, e o grito agudo é o que te serve de dor mais forte, e as pontadas que te ofereço com cortejo não terão respeito pelo teu próximo motel barato. Entenda que o amor que mantinha aqui, sagrado, e bonito, e seguro, tornou-se profano e eu já não me dou com essas coisas. Nem mais minha carne te é servida, nem mais tua carne pode te salvar. Se me trago toda pra dentro é porque não posso me expulsar mais do que já fiz; o mundo é hostil e você sabe (maldito seja o momento em que largaste mão de proteger meu lado doce, que era um doce raro, tu sabes bem, mas já não existe, que tudo que corta deixa marcas, e tua lâmina flácida saiu com furor mas sem certezas e acabou por destruir as nuvens que suspenso te mantinham) mas os espinhos de minhas flores hão de fazer um bom trabalho. Não penses jamais que tudo virou pedra, porque se tem uma regra que meu coração sabe de cor é que é preciso sair por aí amando todo mundo. São só as todas coisas que minha boca urgia em te mostrar (mostrar, porque de palavras não há nada) que correram porta afora e só deus sabe quem lhes conseguirá botar rédeas.





Com carinho,

04 setembro 2007


carta em fevereiro


Páro na frente do laptop com aquela expressão vazia de quem espera sentado no saguão do aeroporto. Não entendo por quê essa maldita igreja não cala a boca, é todo dia esse tormento, e todo dia nos esforçamos em aguentar, mas hoje é a perfeita ocasião pra sair na janela de camiseta e calcinha e gritar bem alto: vão tomar no cu, seus hereges! - aliás, seria, se eu não parasse na janela com cara de cachorro enquanto percebo o quanto fico amolecida até com essas músicas babacas. O problema todo foi que encontrei um cartão seu de pouco tempo atrás, quando cheguei de viagem e você foi me dar as boas vindas com flores, flores cor-de-rosa, que nunca serão as mais bonitas do mundo, mas naquele dia eram quase surreais. E de repente, havia você por todos os lados, o bichinho que aperta e fala alguma coisa em inglês, o ursinho de pelúcia, a blusa de sair que eu não tinha, o livro que você me deu sem nem conhecer o autor, mas eu insisti e foi como se fosse uma recompensa por eu ter te apresentado à maravilha literária que são os sebos. Então eu começo a beliscar os lábios, mas logo páro, porque senti como se ainda estivesse próxima a levar um tapinha de reprovação. Os cd's que colei na parede me lembram do teu vício por informática, e por joguinhos estúpidos onde todo mundo mata todo mundo, e das vezes em que tive que esperar mais uma rodada de pôquer virtual antes de saírmos. Eu tenho pensado muito nos últimos dias, ou muito pouco talvez, ou muito frequentemente sobre o mesmo assunto e odeio o fato de não ter tirado nenhuma conclusão satisfatória ainda. Às vezes me arrependo de ter mudado o relationship status do orkut, mas fazer o quê, as coisas mudaram agora, e as tentativas de conserto foram sabiamente consideradas "hábito" por você. Você está certo. Virou uma zona essa coisa de "não te amo mas quero você por perto", é ridículo, tive 13 anos de novo, e olha que nem sou assim tão velha pra estar dizendo uma coisa dessas e me sentir inovadora por isso. Aliás, a própria Alanis o fez. Não que eu ainda a idolatre, até porque ultimamente ela só tem jogado lixo nos ouvidos alheios, mas em 98 ela era boa, e eu tinha 10 anos, e quando fiz 13 tudo encaixava completamente. Enfim. Acho que você estava certo quando disse que eu tinha que sair por aí e conhecer gente nova, e ter novas experiências, e fazer mais sexo e beber mais. Você disse seis meses, não acredito que isso seja tempo suficiente, mas ainda assim penso não poder levar até lá. Julho, imagine, Julho! Julho é muito longe de Fevereiro, e é um mês com um nome ruim. Não sei por quê nomes tão parecidos com nomes de gente. Junho? por quê não Junior, de uma vez? E Julho? Sempre me lembra de quando fui "a outra" de um tal aí chamado Júlio. Terrível, muito melhor Novembro. Não lembra ninguém, é um nome bonito, nos leva a pensar em tempo. Enfim. Novembro foi legal, ao menos o primeiro. Fato é que são 21h27, você já deve ter chegado em Curitiba, e tudo o que eu comi hoje foi um bife duro com arroz gelado. Desde ontem à noite não saio da cama - por opção, tudo bem, resolvi refletir, não que eu ache a coisa certa, mas, caramba! já nem sei mais o que querer, entende? Acho que até entendo o rumo que as coisas pegarão daqui pra frente, e concordo com ele, embora às vezes me dê vontade de tomar mais 5 Dramins e dormir até Agosto, não, Agosto não, é aquele mês em que tudo dá errado. Quer saber, acho que vou assistir Mogli e fazer um Nescau de Leite Ninho - acabou o leite aqui em casa, a mãe só chega amanhã, você sabe - e dormir. Amanhã acordarei linda e graciosa, como você nunca viu (azar o seu não poder me elogiar amanhã) e darei início ao meu primeiro dia antes de chegar Julho - embora eu ache que Julho nunca mais chegue.




# julho chegou e setembro também, eu continuo sendo uma bichinha que só sabe falar de relacionamentos.
 

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