Hoje em mim chove. Chove a dor dos maus cuidados dedicados, chove a tristeza e a denúncia de um tal dia vinteum. Que fizestes tu pra ser merecedor? Nada, responderias, e com toda a razão que te coubesse. Ah, se pudesses saber: recortei e colei mais de mil frases que definem o amar; e abaixo de cada colagem, um mundaréu de toques e palavras e doçuras que transparecem toda a minha visão.
Mas assim como Clarice, cansei de morder estrelas. E se então mordesse tu as minhas? Seriam braços ao redor de braços e o teu respirar leve encontraria meus cabelos, e meus pedaços, e meus relâmpagos...
Mas me esqueço que é janeiro, e em dias de janeiro as chuvas são chuvas de verão.
Eu seco.
23 janeiro 2007
23 janeiro 2007
04 janeiro 2007
Encontrei em um about bonito um trechinho de um texto de Clarice. Ignoro o acaso, responsável pela coincidência entre o about e o trecho, e contenho-me em transcrevê-lo aqui - pra que não seja mais um texto bonito a se esquecer.
[ Nessa mesma noite, (Lóri) gaguejara uma prece para o Deus e para si mesma: alivia minha alma, faze com que eu sinta que tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não te indague de mais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém.
De repente Lóri não suportou mais e telefonou para Ulisses:
- Que é que faço, é de noite e estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.
Houve uma pausa, ela chegou a pensar que Ulisses não ouvira. Então ele disse com voz calma e apaziguante:
- Aguente. ]
Do Livro Dos Prazeres, que li há tempos mas não lembrava o quão bonitinho era.
[ Nessa mesma noite, (Lóri) gaguejara uma prece para o Deus e para si mesma: alivia minha alma, faze com que eu sinta que tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não te indague de mais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém.
De repente Lóri não suportou mais e telefonou para Ulisses:
- Que é que faço, é de noite e estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.
Houve uma pausa, ela chegou a pensar que Ulisses não ouvira. Então ele disse com voz calma e apaziguante:
- Aguente. ]
Do Livro Dos Prazeres, que li há tempos mas não lembrava o quão bonitinho era.
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