23 março 2007


Não faça assim, querida. Tu sabes o que te acontece. És movida pelos problemas, e só eles te impulsionam. Cada pessoa têm seu próprio cordão pra quando precisar se agarrar: teu cordão é grosso, é barbante ruim. Daqueles que não rasga, que não corta, que fica preto, sujo, pegajoso, mas ali, resistente: não te deixa. Teu cordão é um fio grosso tecido por problemas, problemas mil, que te fizeram derrubar mais lágrimas do que o que sobrou de água potável nesse mundo. E sabes o que é pior de tudo isso? Gostas dos teus problemas. Gostas que eles existam, és incompleta e vazia sem eles. São teus amigos, teus escudeiros, teus moldadores, te mostram as direções - embora sejam tantas, as direções, e erradas, quase sempre. Mesmo errada, não desistes. E chora, e levanta, e lava a tua roupa, esfrega o teu fogão, e senta no chão frio da cozinha pra chorar um pouco mais, batendo de leve a cabeça na parede, mas ainda assim continua a esfregar aquela manchinha que não sai desse azulejo, meu deus, nem com reza braba. Dorme, quando consegues: quando não, conta pregas no assoalho e fica invertendo frases, brincando de palavras, como quem decora um texto que será apresentado em muito pouco tempo e mesmo com toda a dedicação do mundo, jamais conseguirá lembrar das palavras certas quando for a hora. E é assim, tu e teus problemas. Que te preencherão quando não tiveres mais ninguém; que te afastaram daqueles que tu já teve próximo. É tua sina, vá aquietar-se e se conformar. Que eles existirão sempre. Se não pra ti, dentro de ti.

06 março 2007

Meu Caro Amigo

Nesse momento eu sinto que todas as pessoas do mundo vão assistir ao show do Chico no dia do meu aniversário.

Tipo, todas as pessoas do mundo estarão assistindo Chico Buarque cantar Eu Te Amo e Construção e A Rita e A Mais Bonita e Tatuagem e Aquela Mulher e As Vitrines e Até Pensei e Com Açúcar, Com Afeto e Beatriz e Deixe a Menina e (seguem nomes de músicas infinitamente e batidas de coração e soluços e ai ai ai) e eu estarei tendo aula de Imprensa Segmentada, só porque não tenho cento e quarenta mangos disponíveis.


Vocês entendem?




IMPRENSA SEGMENTADA.

Chico Buarque - As Vitrines

Eu te vejo sumir por aí /Te avisei que a cidade era um vão / Dá tua mão, olha prá mim / Não faz assim, não vá lá, não / Os letreiros a te colorir / Embaraçam a minha visão / Eu te vi suspirar de aflição / E sair da sessão frouxa de rir / Já te vejo brincando gostando de ser / Tua sombra se multiplicar / Nos teus olhos também posso ver / As vitrines te vendo passar / Na galeria, cada clarão / É como um dia depois de outro dia / Abrindo o salão / Passas em exposição / Passas sem ver teu vigia / Catando a poesia / que entornas no chão
 

© 2009foi por descuido | by TNB