16 julho 2008

apelo de um saco que já encheu



a partir de hoje, não se conversa com niguém. a partir de hoje, se mede toda e qualquer ameaça de ação, de beijo no rosto, de abraço apertado. se reprime qualquer vontade de palavras carinhosas. o olhar dirigido a presenças masculinas está terminantemente proibido (não importando o nome, o endereço postal, a idade). não se pode rir, não se chora mais. a partir de hoje, as mãos só apertam as mãos íntimas, os olhos só conversam fechados, o corpo não encosta mais em ninguém. a partir de hoje, tudo é feito com equilíbrio, tudo é medido para caber nas conversas, não se usa mais perfume, não se passa mais a mão no cabelo. a partir de hoje, nenhuma conversa é feita a partir do mesmo nome, nenhuma vida existe dentro daquela vida, nenhuma vontade é realizada, tudo é deixado pra trás. o amanhã deve ter na bandeira as palavras: que se foda a intuição, o desejo, a sinceridade! que se encarnem em todos os robôs da rotina e que mandem embora o mais depressa possível o impulso terrível de se ser humano.

e que sejam amaldiçoados todos aqueles que, como eu, têm nas veias sangue vermelho e nos olhos o impulso de viver. que definhem todos os que têm fome, que morrem de vontade, os que secam de desejo, os que ardem. porque as veias fracas e os olhos pálidos daqueles que não vivem não suportam a visão da vontade; aprisionam-se entre bons costumes e descontam nas línguas as vontades do corpo que a mente não obedece. e amaldiçoado também seja aquele que disse que inútil dormir que a dor não passa; aquele que insistiu que a vida é feita de se agir duas vezes antes de se evocar o pensamento. aos outros, só peço que vão é esperar a vida passar na frente dos olhos, criaturas burras: assim, poderão falar dela também, ocupando muito mais a língua do que o coração atrofiado. se meu instinto não é bem visto aqui, devo mesmo é me aquietar e ir viver na luxúria e na agonia calma e quieta das mulheres de chico, de adriana e de vinicius, aqueles malditos promíscuos, indignos dos bons costumes de se viver junto aos 'normais'.



2 comentários:

L disse...

Olá...adorei os textos!
Penso que ainda temos muito a viver,que somos felizes esabemos ou ocultamos; que reclamamos muito da sociedade em que vivemos mas esquecemos que fazemos parte dela...

Bom,parabéns pelo blog! Grande beijo

Luiza

Petackas disse...

wow i never knew that u have ur own blogspot... i have one as a psichologist or we can say diary jejeje..

nice to discover new things about you...

besos bonita.

manu

 

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