24 julho 2008



, dizendo que sabe que eu aceito com força a tudo que aparece: problemas que não pedi, ofertas de desafio, homens que não conheço. que, além de queimar minha alma com as retinas, quando ajo como uma desvairada, louca, tonta, é que me quer inteira e nua de razão, ali onde degolaram os ladrões nouta vez. nem ligo, dou risada, cuspo nos cabelos, mas me aquieto depois. bebo o que me oferece e engulo junto o choro, numa quina de paredes frias.

, que foi onde comecei, pouco a pouco, minha coleção de dias, transformados em palitinhos, finos como eu, mas assim também como eu, pontiagudos e afiados. por vezes, meu palitos cronológicos furavam até meus pensamentos, mas essa época passou, não volta mais, então eu respiro, pego outra parede, ponho-me a desenhar mais palitinhos (trapaceio, às vezes: desenho mais de um palitinho num mesmo dia, que é pra fazer o tempo correr mais depressa).

, aquela mesma, que vem sempre aí. pobrezinha, nem desconfia que depois do quarto é só pó, um travesseiro que quase contra a vontade guarda o cheiro azedo de um perfume sem nome, uma escova de cabelo de metal azul e um tapete. se fizer silêncio, escuto seus gritos. mesmo intensos, são leves, e a imagino assim, de maçãs rosadas e pés descalços, e finjo sentir o mesmo que ela sente, esse sentir que vem lento, e forte, e quando dou por mim estou deitada e pobre e a cabeça dói, e tento me recompor, olho em volta, ninguém viu, mas a vergonha não é dos outros, é de mim mesma, a única pessoa pra quem eu devo alguma coisa

, a não ser ele, que me dá de comer e de beber, é uma boa pessoa. quando fico triste porque penso que vou sangrar tudo que tem em mim, ele aparece, me manda perceber o quão sortuda sou por ter ele ali, comigo, pra me dar um teto e o que vestir; então agradeço, jogo-me aos seus pés e beijo com força de gente que é louca todas as partes do corpo que ele tem, e é quase sempre quando ele também põe-se louco à minha frente, mas como sou gorda e baixa, e ruiva, meu grito não é leve, é um grito grave, pesado, e acho que não gosta muito, porque logo sai, e torno a desenhar palitinhos na parede e enrolar os fiapos do tapete, até que o sol volte pela fresta da quina, a quina que é fria e dura, mas que é minha, minha como algum dia nessa vida ele vai ser meu, vai ser, sim

2 comentários:

amanda audi disse...

sensacional.

Unknown disse...

gorda, baixa e ruiva.
hahaha
sensacional

 

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