16 junho 2009

barthes, peirce e o meu desencantamento do mundo



a dança, matisse

filhos, textos e amores têm em comum a pior das características. nenhum deles jamais será teu. teu filho nunca será teu, teu amor nunca será somente teu. teus textos, sejam prosa, poesia ou dissertação, não importa: jamais serão somente teus. você os pare para o mundo, num processo tão intenso quanto dolorido de carinho e criação. e o mundo fará deles o que bem entender. porque um momento, mesmo que registrado documentado fotografado, é um momento morto: não volta mais. uma música ouvida, uma fotografia, um recado, são todos símbolos, memórias mórbidas de um passado que fez parte, mas morreu. não há presente. pode haver, ao máximo, a lembrança - o mais é todo ilusão.

qualquer fruto da criação (pode ser um texto em prosa, quem sabe) é lançado por ti para o mundo. o mundo terá seus próprios referenciais: podes fazer o melhor de ti ao produzi-lo, lançá-lo, construí-lo, mas o mundo fará dele o que quiser, e nunca será aquilo que você desejou. porque o mundo, como as pessoas, são assim munidos de tantas coisas, coisas que maculam as percepções e que tornam tudo uma outra coisa diferente.

teu amor é também fruto da tua criação. ele jamais será teu, ele é do mundo, e o mundo tem olhos verdes (o mundo e o ciúme de shakespeare). e podes debater, gemer, cansar, mas o mundo fará dele o que o mundo bem entender.

1 comentários:

Flávia S. disse...

você, amanda e pupo dizendo sobre essa morbidez dos momentos. vou encarar como um sinal.

 

© 2009foi por descuido | by TNB