28 fevereiro 2010


deitou na cama acompanhada de algum formigamento, alguma sensação de separatez. o céu permanecia no amarelado das luzes da praça, refletidas na massa de sereno que pairava pesada sobre todas as coisas. de alguma maneira sem linhas era diferente daquilo de que ela sentia saudade. se esticava e alcançava com os dedos do pé a borda da cama e pensava como podia caber e não caber ao mesmo tempo, ficava surpresa sempre mesmo estando também sempre mergulhada na translucidez.
gostava assim das camas de hotéis porque sentia que elas, tão delicadamente, jogavam-na na realidade da sua existência, apenas uma a mais, nada do especialismo de que as pessoas falam ou lutam todos os dias e incessantemente para conseguir provar. camas de hotéis vinham sempre pesadas das marcas dos outros e sempre jogavam-na levemente pra fora, fazendo-na lembrar de que haveria de partir. não sentia a partida aquela noite, e fazia tanta falta, aquela filosofia noturna dormente dos dedos dos pés contra algo que não se poderia conhecer, um escuro banal e malfeitor.

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