09 agosto 2008

estive por aí


encontrei murilo em um encontro forçado num bar, no centro da cidade. murilo me conhecia de nome mas era cru do julgamento que todos os outros fizeram de mim: sabe meu nome, apenas, e quando o nome é tudo é quando a coisa é mais bela e linda porque ainda há tudo (novo) por vir. fui pelas beiradas. entre um ou outro daqueles silêncios constrangedores que se evita mas nunca se consegue disfarçar, falamos da vida, dos sonhos, dos gostos, das cores, das dores, das carnes, do álcool, do vício, dos fortes, das noites, das luzes, dos ventos, das placas, das ruas, das idas, das canções, dos mundos - meu e dele - e de tudo que jamais caberia numa noite só não fosse a sensação de que tudo era sonho e ia acabar assim que o coração retomasse o ritmo.

assim como a noite, que zombava cínica de nós dois, estranhos de nós mesmos naquele espaço de tempo (fantástico que o mundo seja desse jeito, grande e grande e mesmo assim eu tenha tido a delícia de dividir ali o mesmo pedaço de mundo contigo) os copos tinham vida e iam e voltavam e multiplicavam-se sem que pudéssemos fazer nada. eu não podia.

murilo falava e eu falava em resposta. pelo segundo ou vigésimo copo, não me lembro bem, pensei que não havia mais ninguém no mundo que eu poderia querer que estivesse ali no lugar de murilo. o mundo era grande, eu sabia; mas aquele bar era pra mim toda a parte de vida que me interessava.

o amor não tinha nada a ver com aquilo.

fomos dormir quando o sol chegou, acordei com as mãos formigando e o peito em azul. demorei a fugir do braço esquerdo de murilo (que era pequeno, mas o peso daquele braço tinha força igual ao meu medo de viver mais uma vez).

não olhei pra murilo. deixei um bilhete:
peço a gentileza de esquecer.


1 comentários:

Anônimo disse...
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