03 março 2009

das coisas à toa numa manhã de domingo

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bem se sabe que sou péssima em explicar razões. nunca reclamei tal direito, portanto. pensava apenas que as vontades justificavam atitudes, e que vontades dignas são responsáveis por atitudes justificadas (ou justificáveis). vez ou outra, quando é preciso pensar sobre coisas que faço ou digo, enfio os pés pelas mãos, sem muitas desculpas. também isso seria justificado.
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defendo também tudo aquilo que dói, tudo aquilo que come por dentro, que ferve, tudo aquilo que obriga a algo novo, inédito, melhor. defendo adriana que canta que gosta de quem tem fome, de quem morre de vontade, de quem seca de desejo, de quem arde. defendo garcía márquez, que diz que só se vale a pena falar do amor. defendo nelson rodrigues, que mata seus personagens em noites desertas, no meio da rua, por causa de um beijo. defendo cazuza, cartola, kundera, drummond.
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gosto em você da parte que não faz de mim o que eu não sou. gosto da parte que não me diz como sou bonita, como todos os outros me querem, como sou quando escrevo, quando falo, como sou mais velha de espírito, como não pareço as meninas bobas de vinte anos. gosto em você da parte que não se apaixonou, embora isso também dilacere por dentro. gosto porque não me é comum, porque o comum é sempre oposto.
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gosto em você de beijinhos no pescoço e de conversas despretensiosas, misturando o que é possível de se misturar entre amizade e desejo. gosto em você da vontade que tenho de te mostrar tudo que conheço, tudo que já vi, tudo que talvez haja a chance de você gostar também. gosto em você do que me faz pensar, do que não me é comum, gosto em você da pessoa que eu nunca vi, de mostrar como é a humanidade em palavras que não têm outra função a não ser serem belas. gosto em você das lembranças que carrega na barba, no cabelo, na bermuda, no violão. gosto em você da sinceridade jogada na cara como uma navalha afiada em pedra. que rasga. gosto em você do novo que nasce em mim, da calmaria, do estar tranquilo em se estar junto. e se não se pôde ser assim em todo, assim foi ao menos do lado de cá.
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o que dói hoje é o que não doía antes, é o querer mostrar e não poder, o querer estar e não poder. é um doer novo, que eu nunca reneguei (porque não há de se renegar o doer), e aceito de bom grado, embora pense que a calmaria ainda valesse um pouco mais, porque todo mundo sabe, é melhor ser alegre que ser triste. o que dói hoje são os planos esquecidos, as fotos não reveladas, aquilo tudo que era pra ser feito e não foi. o fim que é triste por ser fim, mesmo o fim que esquece em cada um aquele pouquinho de esperança. que se houvessem certezas, o coração prometeria mundos, prometeria uma vez a cada quinze dias, prometeria dias sem cobranças, sem desesperos, apenas a felicidade de poder se estar junto quando se dá vontade, e apenas isso, e o coração os prometeria, sem problemas, sem dores, apenas a disposição. mas não há certeza alguma, nunca, e nem poderia haver: a importância de um amigo não é a mesma importância de alguém que se queira ver bem mesmo contra si próprio, não é a mesma importância de quem se quer beijar na boca, levar à cama, apanhar flores no caminho, dizer palavras tolas às estrelas, dizer finalmente as palavras que são proibidas.

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o que dói hoje é a certeza do meu dramalhão barato; do gosto mórbido que tenho em ver um orgulho ao chão, pisado, arrastado, maltrapilho - mesmo e principalmente se esse orgulho for o meu. que isso não me aumenta e nem diminui, que não sou por isso mais ou menos louca, mais ou menos fraca, mais ou menos forte, desde que haja na história toda um alfinete pelo qual lutar, uma esperança na qual acreditar. que sou romântica até o fim das carnes, e não no sentido amor romântico, mas no sentido das coisas que devem ser bonitas e literárias, como a arte e a poesia, sempre. vivemos naquilo que queremos. e se algum dia isso for possível, não há palavras mais a se dizer.


2 comentários:

jaq. disse...

respeito muito o que diz aqui e sinto cada palavra também.

Unknown disse...

Acha certo?

 

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