31 outubro 2006

eu espero que você tenha todas as tripas arrancadas, e que sofra seu coração arrebentando toda vez que tiver que olhar para uma mulher e perceber o quanto ela é pior do que eu.

30 outubro 2006

nada ficou no lugar



nada ficou no lugar
eu quero quebrar essas xícaras

laura félix

Mas Laura já sabia disso tudo, tudo já lhe haviam dito. Que é coisa pro tempo, que se há de ter paciência, que pra tudo na vida existe um remédio. Laura não queria remédios (já lhe bastavam os da enxaqueca), não queria paciência, não queria que se passasse nem mais um minuto antes do seu mundo ter o fim que esperava que tivesse. Então Laura saiu na chuva, molhou os cabelos, caminhou até o lugar onde estava seu destino e disse, bem baixinho, bem pausado, como se assim pudesse abafar toda a raiva que lhe fazia crescer aquela bola na garganta:
- Diz, então.
E seu destino disse, e ali deixou de ser seu destino, e Laura ainda tinha os cabelos molhados e as bolas na garganta, mas nem um nem outro a impediram de sentir o peito - e a razão - partidos em dois por terem sido tão bruscamente desditos e desmentidos. E seu destino ainda a abraçou, como num consolo, mas Laura já estava em outro lugar. E enquanto voltava pra casa, cada pequena luz era desfocada por uma nova gotinha de água salgada ou um novo arrepio no peito, desses que deixam os fiozinhos do cabelo arrepiados e a sensação de que alguma coisa ficou pra trás.
 

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