01 março 2010

"falar com ele me deixava louca. ele mandava de longe notícias com cheiro de outono e contava as cores dos vestidos das mulheres que cruzavam a 5th ou o barulho dos carros da 9th, que não o deixavam dormir, mas estava tudo bem porque o apartamento era bom e ele pagava quase o mesmo de um lugar desses que são comuns no brooklyn. eu ouvia cansada e tentava acompanhar depois de um dia inteiro de trabalho e dessas minhocas que comiam minha cabeça e não lembro o que estava tocando mas bastou uma brisa entrar pela janela que eu percebi como era o colorido pálido daquele momento e desatei a chorar. ele perguntou o motivo do meu pranto repentino e tentou brincar dizendo que em mim era tudo assim repentino, em rompantes, que ele tinha sempre essa impressão de que se piscasse eu não estaria mais ali ao lado dele e eu me calei e procurei na memória a parte funda de seus olhos, tentando encontrar a parte de mim que de repente se perdeu."
 

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