23 abril 2008


foram precisos cinco dias pra que pudessem reconhecer aquele caminho pelo qual estavam seguindo. ambos já estiveram ali antes, mas dessa vez as pegadas, e a brisa, e os sons, era tudo tão brilhante e luminoso que as retinas não absorviam o outro lado, aquele que já tivera sido traçado antes, que já era conhecido, que foi evitado com tanta força durante alguns dias da vida, aqueles dias em que o chá não tem gosto e os joelhos sentem dor, e os dentes ficam sensíveis e os lábios não servem pra mais nada que não seja beliscar. passaram assim os cinco dias, ofuscados pela paisagem branca, clara, silenciosa e fria, que até era bonita, mas destoava em tudo do interior, da força, do barulho da madeira crepitando no fogo, das cores bonitas de tudo em volta, da letargia de um tempo que não existia pra ninguém, a não ser eles mesmos.

cinco dias. na manhã do sexto dia, o lápis amarelo fogo que nunca tinha sido apontado retomou sua cor original, um laranja-amarelado pálido, um tom pastel, que assim como tudo em volta, de repente não era digno o suficiente pra ter um nome próprio. quis dizer que, de todos os nomes do mundo, nenhum serviria, nenhum dos nomes dele seriam suficientes, nenhum dos nomes dela alcançariam a altura da vontade. quis inventar outros nomes, nomear em sílabas tudo o que os olhos viam, inventar fonemas novos pra cada um dos dias que passaram, e depois compor uma música que não existia no espaço, só no tempo. quis que os olhos não piscassem nunca mais, que fosse quebrada em mil pequenas partes, e que fossem absorvidas uma a uma, ao som da música que não existia. quis ser conhecida, interpretada, de mil jeitos e mil ângulos diferentes pra cada uma das mil partes que tinha se tornado. quis que ele inventasse um nome pra cada interpretação, e então ela poderia finalmente saber como ela era em cada dobra e cada essência, das muitas mil que guardava no peito. quis que a conhecessem; quis que fosse ele. quis apontar aquele lápis, usar a borracha, mostrar que todas as cores e coisas e brisas devem ser conhecidas, e quebradas parte a parte, e tomadas em doses pequenas, porque tudo está ali exatamente onde deveria estar, e nós precisamos disso, meu deus, precisamos, você não vê? quis que ele identificasse cada som de cada centímetro de cada sequência sua, inteira, completa, em partes. pensou que podia-se encontrar coisas boas, devo ter alguma coisa boa. quis ter várias, quis mostrar. quis ser feita compreender. e de tanto querer, de tão intensa, tornou-se branca, e já não era mais partes. ele quis dizer calma, vai ficar tudo bem. quis queimar em fogo a boa lembrança que ela seria. e enquanto mais ele falava, mais branca ela ficava, e luminosa. quis que ela parasse, que voltasse a ser calor e cores, e brisa, e fogo, mas ela palideceu, voltou a pertencer às cores que não tem nome, ficou fria, retomou cada parte em seu devido lugar. voltou a ser inteira.



so break me to small parts / let go in small doses
but spare some for spare parts / there might be some good ones

17 abril 2008


e se me perguntassem eu diria

que fiz que pude

que quis e que não

me enganei diria que

não dói não machuca

não deixa menor não entristece

diria que acontece mesmo

mas é normal então deixa

que aconteça diria que

não é o bastante nunca nunca é

o bastante e

que por isso mesmo -

eu não vou parar





 

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