07 junho 2008

carta ao frio

já faz um tempo que a vontade de escrever é desviada por qualquer distração. como dar forma a palavras quando mal se consegue respirar? não lembro de outra vez em que me sentisse tão bem entendida sobre pensamentos, opiniões e ideais palpáveis; as coisas que se passaram foram suficientes para mostrar que os sentidos são relativos: cada um, à sua maneira, tenta construir para si o universo que sempre desejou. o que muda é a coragem.
num canto, alguém que vive no passado (alguém que comete o mais comum dos erros, alguém engolido pela nostalgia de outros tempos, como quando a gente vê um álbum de infância e pensa "eu era feliz mas não sabia", e recusa o resultado inevitável de que aquele álbum já passou e não volta mais, e se naqueles dias tudo funcionou como deveria não é por isso que funcionaria hoje, e que, por mais que pareça, o passado não era assim tão feliz, mas sim a idéia de passado: um esconderijo escuro que a coragem abandonou).
em outro canto (são quatro), alguém em uma bela realidade, sofrida e bela, e em harmonia perfeita entre idéias e sentimentos. alguém assumido. mas a harmonia é do tamanho do risco: a humildade vai se perder.
em terceiro, um coração batido e cansado, que rodeia enquanto pode e dá voltas e mais voltas em torno da mesma crítica de mundo duro, injusto e opressor, aquela mesma crítica de tudo e todos, aquela mesma crítica comedora de sorrisos, que se infiltrou no coração batido de um jeito que tudo em volta parece pesado, e triste, e indigno de ser.
por fim, uma idéia cansada de ser idéia, uma idéia que já foi contra o mundo e a favor dele; hoje, apenas vive. uma boca que já foi calada demais, falante demais, e que acabou escolhendo por se dar a chance de mostrar os dentes em um sorriso sem ameaça. uma paciência que acabou, que vem regredindo sob certo ponto de vista, que largou mão da busca pela inserção e que ignora o pensamento fatalista, assim, simplesmente.
assim, um bater leve de dedos em um teclado desgastado, pedindo humildemente por uma renovação, qualquer que seja ela. a janela aberta vai sempre trazer uma esperança branda, cada vez mais branda, e mais sólida, por consequência. meu doer novo vem ficando amigo e em reverência eu agradeço, mas não sem a oração: dessa vez, que seja firme.

1 comentários:

Flávia S. disse...

se me permite, poderia facilmente me encaixar em um desses cantos de que você disse.

 

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