26 outubro 2008

narciso II

eu não sei o que o meu corpo abriga nessas noites quentes de verão. respirar de peito aberto é uma batalha a ser vencida dia após dia, com os olhos livres de buscas pelas verdades absolutas que nunca salvaram ninguém. carrego em mim a culpa condensada de ser a responsável por noventa por cento de tudo aquilo que condeno; e a esperança infantil do dia de cores fortes que haverá de trazer algodões-doces de mudança. há também a calmaria do coração quando me vejo frente a uma compreensão que me faz inumana, inacabada, indestrutível, e a tormenta aguda que me dói apática quando sinto vivo aqui cada sentimento novo - sincero, puro, cru - e que me faz intensa, inteira, impulso. sinto cada vez mais forte o cheiro doce da simplicidade que me chega à porta munida de dimensões que vi uma vez, mas que jamais esqueço; por vezes, entrego-me à preguiça, atrás de qualquer desculpa esfarrapada, e me deixo consumir cada pêlo, pele, parte, por um sol que acabei de conhecer, mas que sou íntima. do amor: quero fundo e crio aqui com o cuidado de uma mãe que acabou de parir - sou toda e inteira dos amores que escolho meus, mesmo que não os tenham escolhido. não me dou à senhora tristeza de aguardar que meus amores percorram o mundo e retornem a mim; sou provedora, apenas, encarando de queixo alto consequências eventuais. da tristeza: deixo vir com a condição de que venha em chamas, tudo que é tem de ser em todo. não me esquivo do caráter cazuza de tudo ou nunca mais, porque há de ser vivo vez ou outra. da coragem: vejo sempre dois ou três passos adiante; não tão perto a ponto de alcançar, não tão longe que possa desistir. da febre: sem ela nao sou. das lágrimas: saudades doídas do sal que adormeceu. do futuro: parto aos poucos a brisa da vontade. pra quando o verão nascer. pra quando chegar a hora.

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