08 novembro 2008

tenho andado distraído



depois do café, olho a janela que não me diz nada. são poucos os dias como esse; dias em que nem o céu parece saber decidir entre o sol ou a chuva. uma vontade contida ou uma confiança que se fez imprópria contróem setas dentro de mim, setas que não apontam, que simplesmente existem, como tantas outras coisas.


desde Laura Féliz que conversas não agregam tanto a mim como essas dos últimos tempos, últimos jantares, últimas preguiças, últimas dúvidas e decisões. calmarias de ser-em-azul, que chegam sem que as tenhamos chamado, que ficam, ficam, que se tornam parte de nós.


tinha treze quando me marquei pra sempre pela primeira vez. quatorze pela segunda. mesma época de Laura Félix, mesma época de André, mesma época de Clarice Drummond Artaud Cazuza e Cartola. mesma época de linhas e caminhos que me deixavam ver o final. desde então, apenas círculos.


poucas vezes me senti tão cansada sem cansar; tão funda sem doer; tão inteira sendo só metade. tenho saudade do ventar, do doer-leve, de Marina, cultivo aqui comigo o buraco das coisas doces devoradas pelas formigas de um tempo que atravessei sem ver. pela primeira vez desde alícia as borboletas voltam a percorrer o meu estômago, meu pulmão, meu pés braços mãos peitos pernas e a mente que ainda nunca dediquei.


me atrai aquela parte livre que passou tempos em casulo, mas não pelo casulo, nem pelas cores que lhe tomaram depois; me agrada o tempo enclausurado sem companhia, sem família, o tempo incluso, o hiatus solitário e doloroso, e cru. me atrai que esse hiatus seja temporário, que os ciclos se completem, que pra ele haja um sentido, uma razão; me atrai que tenha sido silêncio mas que então torne-se música, de melodia intensa e breve; me atrai que encante, que não tenha então raízes, que não tenha então limite, que seja cores. me atrai tudo que é intenso; me atrai o que vai acabar.


já não me dou com mudanças bruscas, já não sou mais da espera pelo dia-de-ser-tudo-para-sempre. mas coração é treinado; sabe entender quando o ritmo muda. sabe sentir quando desperta.

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