02 julho 2009


aquela era a época dos anúncios de fim do mundo, então era inevitável que nos passasse pela cabeça os pensamentos melancólicos que sempre acompanham o fim - qualquer que seja ele, é da natureza do fim ser triste e melancólico - e até o pôr do sol, lá estávamos, ao pé da árvore, enumerando as pequenas coisas que tínhamos vivido.
era época dos anúncios de fim de mundo, e nos perguntávamos se haveria mesmo céu e inferno, julgamento final, todas essas ameaças que nos fazem viver com medo. sempre achei que nunca haveria nada disso, mas era inevitável também que todas as pessoas do convívio nos visitassem em lembrança, pra que pudéssemos nós, no egoísmo da sede de sabedoria, julgá-las previamente, mandando-as pra onde achávamos que deveriam ir. as minhas, na maioria, acabam no limbo, como eu.
então houve uns minutos de silêncio e passei a acompanhar, de memória, as mudanças das pessoas com as quais eu convivia, desde que as conhecia e até aquele momento. é preciso 'cultivar algumas pessoas para que se isole toda a outra humanidade'.
estávamos fatalistas como deveriam estar dois seres humanos à espera do apocalipse. por um momento desejei não ter cultivado pessoa alguma, logo não sofreria com o fim de mundo ou os destinos opostos que pudéssemos ter, mas então pensei que coisa besta seria privar a vida por medo das coisas tristes que podem haver. lembro de ter pensado ainda que, se pudesse, colocaria sentados ao pé da mesma árvore todas as pessoas incrédulas que conheço, todas as medrosas, as apáticas, todas as pessoas tristes, as desacreditadas, as egoístas, todas aquelas viciadas em recolher argumentos pra justificar o medo da entrega, e ficaria com elas até que o mundo acabasse, reunindo sambinhas fotografias histórias e versos, no esforço contínuo de convencê-las de que as coisas valem a pena, veja só, é só você acreditar, a tristeza é inevitável de qualquer forma então é preciso compensar com alegria.
o coração bateu tão forte com a idéia que precisei compartilhar. ouvi que não se deve convencer ninguém de nada, que as pessoas são diferentes e que cada uma vive à sua maneira.
esperamos até o pôr do sol. o mundo não acabou.

2 comentários:

Flávia S. disse...

um dia a gente convence.

Flávia S. disse...

o mundo não vai acabar até lá, bote fé.

 

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