26 julho 2009

era um tempo em que choviam ratos e eles nada mais podiam fazer além de tecer amargos pormenores. havia cinco dias inteiros da mesma luz, da mesma cama e da rotineira discussão sobre a inutilidade do amor. tinham opiniões distintas, quase opostas - mas nenhuma forte o suficiente que chegasse a causar algum desgaste. os dois viam o amor em água morna, cada qual à sua maneira. ele sabia do amor fato natural e inevitável, mera coincidência que a vida acostumou-se a reservar, não importando protagonistas ou coadjuvantes. seria mais uma ordem de chegada ou qualquer coisa assim. ela via do amor a grande sacada da vida, a razão pra todas as outras coisas, mas de uma forma muito menos ardente do que se espera de um último romântico. dizia do amor a única coisa a render boas histórias mas o pensava com a mesma frieza com que pensava a lista do mercado. ambos já haviam lido e ouvido dizer de tantas histórias e tantos amores, mas, quase infantis, não sabiam lidar com o que não se pode tocar. ela mentia ver o amor nos olhos dele. ele pensava ser muito cedo, o amor é uma palavra assim tão forte. ratos continuavam caindo mundo afora, e mais vários dias da mesma luz, da mesma cama e dos diálogos repetidos à exaustão, nos desvios dos silêncios que perturbam. o amor não tinha nada a ver com aquilo.

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