20 agosto 2009

quando andré falou da fugacidade das coisas eu entendi, porque não havia uma só coisa que andré dissesse que eu não sentisse em mim mesma. nunca fez parte de mim querer falar de andré, parecia um pedaço de mundo maculado, uma grande mancha vermelha em cima de todas as coisas que falávamos porque sempre nos vinha à memória aquele convite que me fez quando mal nos conhecíamos. decidimos que seria bom sair pra conversar, nós e as cervejas, haveríamos de nos preocupar com elas, seriam a desculpa eterna de todas as coisas que aconteceram aquela vez, os vários copos enchidos em sequência e engolidos a seco porque estávamos puros e inocentes em meio a um grande e enganoso desconhecido. como se o tempo tivesse sido cortado em dois e a próxima cena descrevesse o quarto de andré, um silêncio que não nos incomodava e as botas que eu não quis tirar antes de me deitar e cair no sono. não sei se andré dormiu, não sei nem ao menos por quanto tempo estive ali, frágil e entregue à delícia de um sonho embriagado, mas eram seis e alguma coisa quando um relógio digital iluminou meu rosto dizendo: "é hora de ir embora". assim como de alguma forma eu estava lá, naquela cama desconhecida, num repente estávamos nos despedindo, tão inocente como "obrigada pela companhia". e assim por cinco anos me mantive imaginando a fugacidade das coisas pra só hoje perceber como é tudo tão perecível - um chocolate meio amargo, um entardecer de cor lilás, uma arranjo de flores, o carinho de um amigo. as coisas pertencem todas a uma sintonia e é preciso acompanhá-la, abandonar os perecíveis quando esses começam a malcheirar. o engano todo, todo o desespero reside no esforço de tentar (anotemos, sempre em vão) manter vivo aquilo que já adoeceu. aprendemos nos filmes livros músicas que das listagens das coisas que nos transpassam há de resultar um saldo e aquilo que resulta positivo é aquilo a ser guardado na lembrança das coisas que morreram - aquele passado que nunca existiu. se andré me perguntasse hoje (não perguntaria, andré é alguém eternamente ressentido, por vezes comigo, por vezes com o mundo) de quais bebidas não provaria, eu responderia apenas que provaria todas novamente porque as mais doces haveria sempre de querer provar, e as mais ácidas - bom, as mais ácidas - elas me arderiam o paladar com o intuito único de provar-me viva. hoje chove uma chuva escura, mas eu pulso. estou viva. curioso que sobre andré quero sempre falar da fugacidade. vai ver é porque andré é exceção à regra: andré permaneceu.

1 comentários:

Anônimo disse...

Que bom que você voltou aqui.

:]

 

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